domingo, 25 de setembro de 2016

A pessoa com deficiência na minha história de vida

A minha experiência com pessoas com alguma deficiência começou há muitos anos quando era criança. Dentre as várias experiências, vou relatar algumas que me marcaram bastante. Quando tinha dez anos, havia um colega de sala chamado Márcio. Ele era um rapaz mais velho que os demais alunos da turma. Possuía bastante dificuldade com as disciplinas de matemática e ciências, e havia reprovado várias vezes a mesma série. Márcio apresentava problemas na fala e não tinha movimentos na mão direita, logo era canhoto. Os colegas sempre o excluía das atividades em grupo, principalmente nas aulas de Educação Física, onde sempre era um dos últimos escolhidos na composição dos times de futebol. Um dia, durante uma aula, Márcio começou a passar mal e de repente ficou bastante agressivo com uma colega que tentou ajudá-lo. Quase foi agredido por outros meninos que não sabia o que estava acontecendo com ele. Esse episódio me marcou profundamente.

Quando adolescente ainda no ensino médio, tive um professor de Inglês que tinha problemas de locomoção. Usava muletas e todos os dias chegava até à escola de carro trazido por algum de seus familiares. A escola não possuía acessibilidade e todos os alunos percebiam o enorme esforço que o professor fazia todos os dias, desde o portão de entrada da escola até a sua sala de aula. De repente, faltando poucos meses para terminar o ano letivo, soube-se que o professor havia largado as aulas na minha escola. E eu fiquei me perguntando: “Será que o professor desistiu das aulas devido à dificuldade que encontrava todos os dias?” O motivo da sua desistência nunca foi revelado. A partir disso, comecei a notar a dificuldade que qualquer pessoa com deficiência enfrentaria naquela escola.

Já atuando como professor em uma escola fui chamado para substituir um professor que ministrava aulas no cursinho Pré-vestibular. Nesta turma, havia uma aluna cega matriculada, que inclusive era bastante assídua. Todos os dias, o porteiro da escola a levava até a sala de aula ajudando a carregar sua máquina de escrever braile, que ela usava para registrar todas as aulas dos professores. A aluna não tinha nenhum acompanhamento adicional durante as aulas.

No dia em que eu fui substituir o professor, não tinha percebido que esta aluna estava presente na aula. Quando comecei a aula, cujo tema era Magnetismo, ouvi o barulho de sua máquina de escrever braile. Isso me causou um enorme desconforto, pois eu nunca tinha tido contato com alunos com deficiência. Rapidamente, respirei fundo e continuei a aula como se nada tivesse acontecido, mas tentando falar um pouco mais devagar, a fim de que a aluna pudesse registrar o máximo de informações possível. Não sei se foi a melhor estratégia, mas não consegui pensar em outra coisa. Na época, ainda era um professor inexperiente.

Saí da aula imaginando como poderia ensinar à essa aluna conteúdos abstratos como a Luz e suas propriedades. E se fosse um aluno surdo, como explicar o que é o som? Eu fiquei bastante intrigado com tudo isso. Na época, fiz algumas pesquisas e encontrei trabalhos acadêmicos reportando o desenvolvimento de estratégias para o ensino de Física alunos cegos. Dez anos mais tarde, estou tendo a oportunidade de participar de um curso de Educação Inclusiva do IFSP que percebo que será bastante proveitoso para a minha formação.

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