A minha
experiência com pessoas com alguma deficiência começou há muitos
anos quando era criança. Dentre as várias experiências, vou
relatar algumas que me marcaram bastante. Quando tinha dez anos,
havia um colega de sala chamado Márcio. Ele era um rapaz mais velho
que os demais alunos da turma. Possuía bastante dificuldade com as
disciplinas de matemática e ciências, e havia reprovado várias
vezes a mesma série. Márcio apresentava problemas na fala e não
tinha movimentos na mão direita, logo era canhoto. Os colegas sempre
o excluía das atividades em grupo, principalmente nas aulas de
Educação Física, onde sempre era um dos últimos escolhidos na
composição dos times de futebol. Um dia, durante uma aula, Márcio
começou a passar mal e de repente ficou bastante agressivo com uma
colega que tentou ajudá-lo. Quase foi agredido por outros meninos
que não sabia o que estava acontecendo com ele. Esse episódio me
marcou profundamente.
Quando
adolescente ainda no ensino médio, tive um professor de Inglês que
tinha problemas de locomoção. Usava muletas e todos os dias chegava
até à escola de carro trazido por algum de seus familiares. A
escola não possuía acessibilidade e todos os alunos percebiam o
enorme esforço que o professor fazia todos os dias, desde o portão
de entrada da escola até a sua sala de aula. De repente, faltando
poucos meses para terminar o ano letivo, soube-se que o professor
havia largado as aulas na minha escola. E eu fiquei me perguntando:
“Será que o professor desistiu das aulas devido à dificuldade que
encontrava todos os dias?” O motivo da sua desistência nunca foi
revelado. A partir disso, comecei a notar a dificuldade que qualquer
pessoa com deficiência enfrentaria naquela escola.
Já
atuando como professor em uma escola fui chamado para substituir um
professor que ministrava aulas no cursinho Pré-vestibular. Nesta
turma, havia uma aluna cega matriculada, que inclusive era bastante
assídua. Todos os dias, o porteiro da escola a levava até a sala de
aula ajudando a carregar sua máquina de escrever braile, que ela
usava para registrar todas as aulas dos professores. A aluna não
tinha nenhum acompanhamento adicional durante as aulas.
No dia em
que eu fui substituir o professor, não tinha percebido que esta
aluna estava presente na aula. Quando comecei a aula, cujo tema era
Magnetismo, ouvi o barulho de sua máquina de escrever braile. Isso
me causou um enorme desconforto, pois eu nunca tinha tido contato com
alunos com deficiência. Rapidamente, respirei fundo e continuei a
aula como se nada tivesse acontecido, mas tentando falar um pouco
mais devagar, a fim de que a aluna pudesse registrar o máximo de
informações possível. Não sei se foi a melhor estratégia, mas
não consegui pensar em outra coisa. Na época, ainda era um
professor inexperiente.
Saí da
aula imaginando como poderia ensinar à essa aluna conteúdos
abstratos como a Luz e suas propriedades. E se fosse um aluno surdo,
como explicar o que é o som? Eu fiquei bastante intrigado com tudo
isso. Na época, fiz algumas pesquisas e encontrei trabalhos
acadêmicos reportando o desenvolvimento de estratégias para o
ensino de Física alunos cegos. Dez anos mais tarde, estou tendo a
oportunidade de participar de um curso de Educação Inclusiva do
IFSP que percebo que será bastante proveitoso para a minha formação.
Adorei o seu blog! Parabéns!!!
ResponderExcluir